Caleidoscópio Enredado nas Escolas: Femifilme Cine-Debate
Por: Elizabeth Ruano Ibarra (UnB), Viviane Resende (UnB) e Maria Carmen Aires Gomes (UnB)
O projeto extensionista “Caleidoscópio Enredado nas Escolas: Femifilme Cine-Debate” é promovido pelo INCT Caleidoscópio - Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades e Violências de Gênero e Sexualidade e suas Múltiplas Insurgências, apoiado pelo CNPq e sediado na UnB, em parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB) Campus São Sebastião, o Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM), o Laboratório de Estudos Críticos do Discurso (LabEC), o grupo Afecto e o Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Género (GREIG), e com financiamento dos editais Licenciaturas em Ação e PIBEX 2023.
A ação extensionista se realiza no cinedebate e na roda de conversa como instrumentos pedagógicos para suscitar o diálogo com estudantes do ensino médio do IFB acerca de questões de gênero e suas interseções, sobre o ingresso no ensino superior e o mercado de trabalho, principalmente para mulheres de classe social empobrecida e subalternamente racializadas. Nesta edição, priorizamos a exibição do filme “Que horas ela volta” (2015), dirigido por Anna Muylaert, e do documentário “Sin&Nhá: entre o palco, a vida real e os bastidores” (2021), dirigido por Caroline Carvalho (PPGCEN/UnB).
A equipe do projeto é formada pelas professoras da UnB Viviane Resende, Elizabeth Ruano Ibarra e Maria Carmen Aires Gomes, pela professora do IFB Pilar Acosta e pelas extensionistas bolsistas Ana Gaspar, Andreia de Sá, Bruna Batista, Leticia Santos e Paola Rocha.
Fonte: projeto Caleidoscópio Enredado nas Escolas: Femifilme Cine-Debate (2023)
A primeira etapa da ação extensionista consistiu no planejamento, por meio de reuniões de equipe e uma oficina voltada para a elaboração de sequências didáticas, considerando o uso de recursos audiovisuais na prática pedagógica.
A primeira sessão do Femifilme cine-debate no IFB de São Sebastião, em 10 de julho de 2023, dedicou-se ao filme “Que Horas Ela Volta?”, escolhido por sua temática relacionada a questões sociopolíticos e culturais em torno do acesso ao ensino superior. Antes da exibição do filme, o seguinte questionamento foi apresentado às turmas de estudantes do IFB: Quais os obstáculos que as/os estudantes de escolas públicas e pessoas de baixa renda enfrentam no acesso à educação superior pública? A questão foi respondida individualmente mediante link que permitiu a elaboração de uma nuvem de palavras. |
Fonte: Foto de Anastácia Vaz (Secom UnB) |
Desigualdade socioeconômica, falta de apoio, questões raciais, falta de oportunidades, trabalho, alimentação e transporte público precário foram os termos mais frequentes.
No debate, após a exibição do filme, provocamos as turmas para responderem em uma palavra o sentimento suscitado pelo longa-metragem. Palavras como submissão, revolta, desigualdade e incentivo apareceram nas respostas. A partir dessa interação inicial se direcionou o debate para a temática do acesso à universidade. A nuvem de palavras foi retomada para enfatizar a falta de apoio como um dos maiores obstáculos apontados pelas turmas. Falta de apoio da família foi um dos desdobramentos dessa temática no debate, mas muitas respostas mencionavam, ao contrário, o incentivo de parentes que já estavam na universidade, ou seja, observando através deles a possibilidade de também alcançarem o ensino superior. Nesse momento, as bolsistas do projeto, graduandas da UnB, relataram suas experiências de acesso à universidade.
O debate mostrou que grande parte das/dos estudantes almeja ingressar no ensino superior, mas entendem que sua situação de estudantes trabalhadoras/es é um empecilho. Por isso, alguns apontaram que a prioridade é garantir um emprego para depois ingressarem em um curso superior. Um dos temas que surgiu no debate e que gerou ricas reflexões, embora não previsto na sequência didática, foi a preparação para os exames vestibulares. Es estudantes do IFB de São Sebastião, por cursarem ensino que privilegia o caráter técnico, se sentem em desvantagem, pois não seriam suficientemente preparados no conteúdo cobrado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em comparação com estudantes de escolas regulares.
Na segunda sessão, realizada em 30 de agosto de 2023, foi exibido e debatido o documentário “Sin&Nhá: entre o palco, vida real e os bastidores” (2021), que evidencia o racismo enfrentado por mulheres negras no mercado de trabalho, especificamente no varejo brasileiro. O debate se orientou a partir das seguintes perguntas: Qual tipo de experiência mulheres negras vivenciam no mercado de trabalho? As mulheres brancas vivenciam os mesmos desafios e obstáculos? Você já presenciou uma situação de racismo na escola? Se sim, como foi?
O debate se desenvolveu com excelentes reflexões dos/as estudantes, entrelaçando suas vivências com os conceitos de racismo estrutural e racismo recreativo. As turmas envolvidas na ação extensionista, com acompanhamento da professora Pilar Acosta, darão continuidade ao estudo dessa temática mediante sequências didáticas e produção de textos em diálogo com as bases teóricas e técnicas fornecidas pelo projeto de extensão e da disciplina de Língua Portuguesa do Brasil e Literatura (LPBL).
Fonte: Foto de Isa Guerreiro (INCT Caleidoscópio)
Os resultados preliminares do projeto mostram a potência do uso de audiovisuais, como recurso pedagógico, para debater, de maneira qualificada, sobre temas sociais relevantes, como o acesso ao ensino superior. A ação extensionista possibilitou o diálogo democrático, ampliando as visões de mundo das pessoas envolvidas, levando-as a perceberem possíveis obstáculos, mas também possibilidades para o acesso ao ensino superior de grupos sociais historicamente marginalizados no direito à educação. O debate propiciou também a identificação de estratégias de mitigação de atos e práticas racistas cotidianos.